Há um par de meses minha neta de sete anos incompletos perguntou algo a meu filho, uma dessas perguntas que as crianças fazem aos pais e que demandam uma longa explicação. Meu filho costuma respondê-las, mas vendo que ela tinha em mãos seu tablete, decidiu aproveitar a ocasião para forçá-la a exercitar suas recém adquiridas habilidades de leitura. E indagou: “Por que você não faz uma busca no Google?”. E ela retrucou, séria, referindo-se a mim: “Eu não faço buscas no Google. Pergunto a meu avô, que sabe tudo”.

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O relato acima abre esta coluna por diversas razões. A primeira, naturalmente, é pura vaidade deste velho avô, orgulhoso – embora imerecidamente – da confiança que seu saber desperta na neta e temeroso da responsabilidade que ela traz consigo. A segunda tem a ver com o restante da coluna: o lugar que o Google – particularmente seu dispositivo de buscas, origem e razão de sua existência – ocupa na vida das pessoas, inclusive na de crianças de sete anos incompletos que não dispõem de um avô que julgam onisciente.

Porque, exceto minha neta, aparentemente todo o mundo consulta o Google. E o número de consulentes aumentou consideravelmente desde o advento dos telefones com acesso à Internet, que hoje originam 30% das consultas.

30% das consultas do Google são feitas em celulares (Foto: Reprodução/AppStore)

Pois bem, o dispositivo de busca do Google apresenta seus resultados em ordem decrescente de atualidade e relevância e estabelece a relevância de cada resultado utilizando um algoritmo complexo que vem sendo aperfeiçoado ao longo do tempo, aumentando o número de fatores que leva em consideração, inclusive hábitos e características do usuário.

A ordem em que os resultados são exibidos é importante. Isto porque algumas consultas retornam grande número de resultados que se espalham por diversas páginas de texto e em geral apenas as primeiras são consultadas.

Por exemplo: acabo de fazer uma busca com “b piropo” e obtive 469 mil resultados. Destes, o Google exibiu apenas os 210 mais relevantes, que se estenderam por 21 páginas. Não acredito que alguém que queira saber algo sobre este velho colunista que vos escreve tenha um interesse tão profundo que se disponha a percorrê-las todas, já que provavelmente encontrará o que deseja nas primeiras (se bem que se fosse até o final tomaria conhecimento de uma verdadeira pérola no que toca a manifestações de estupidez humana: a última entrada das 210 exibidas é uma página de um sítio com uma lista de notícias em idioma espanhol cuja primeira relata que os organizadores do festival de Cannes, que apenas permitem a mulheres com sapatos de salto alto que percorram o famoso tapete vermelho, proibiram o ingresso de uma convidada que não os usava em virtude de uma amputação no pé).

Mas voltemos ao que interessa: na imensa maioria dos casos, raramente quem faz a consulta passa da segunda ou terceira página, as que contêm os resultados mais relevantes.

Pois bem: no final de fevereiro passado, uma nota postada no Google Webmaster Central Blog (googlewebmastercentral.blogspot), o meio de comunicação direta entre o Google e os desenvolvedores de sítios da Internet (“webmasters”), informava que, até então, usuários que usavam  dispositivos móveis para efetuar suas buscas recebiam os resultados mais relevantes e atuais independentemente do fato de que elas estivessem ou não em páginas ou aplicativos “amistosos a dispositivos móveis” (“mobile friends”), ou seja, desenvolvidos para se adaptarem ao pequeno tamanho da tela d

... esses dispositivos. No entanto, à medida que crescia o número de buscas feitas a partir desses dispositivos, o Google vinha se esmerando em fornecer ferramentas para facilitar aos desenvolvedores configurar seus sítios para detectar o tipo de dispositivo que efetuava a busca e exibir seu conteúdo de acordo, ou seja, para transformá-lo em um “sítio multi-dispositivo” 

Isto posto, e considerando que vinha recebendo um número crescente e significativo de consultas feitas a partir de dispositivos móveis – e levando em conta que já há bastante tempo vinha alertando os desenvolvedores para este fato e lhes sugerindo meios para adaptarem seus sítios de modo a se tornarem multi-dispositivos – o Google havia decidido efetuar duas mudanças importantes para ajudar os consulentes que usavam tais dispositivos a receberem prioritariamente resultados que apontassem para sítios cujo conteúdo se adaptasse ao formato de suas telas, ou seja, que fossem “amistosos a dispositivos móveis”.

Essas mudanças, que passariam a viger dois meses depois (mais precisamente a partir de 21 de abril passado) consistiriam em: a) considerar a “amigabilidade a dispositivos móveis” como um fator a ser levado em conta no estabelecimento da relevância dos resultados e b) sempre que uma consulta fosse feita a partir de um dispositivo móvel, apresentar os resultados na ordem estabelecida considerando este novo fator. E informava ainda que as alterações afetariam buscas feitas em qualquer idioma e teriam um impacto significativo na exibição dos resultados.

Trocando em miúdos: há um mês o Google vem tomando em consideração o fato de o sítio ser ou não “amistoso a dispositivos móveis” como fator no estabelecimento de sua relevância e, sempre que recebe uma consulta feita à partir de um desses dispositivos, fornece os resultados considerando este fator, ou seja, devolvendo no topo da lista de resultados os correspondentes a sítios “amistosos a dispositivos móveis”.

Mobile-geddon

As consequências da mudança são tão sérias que, em entrevista ao Business Insider, Itai Sadan, principal executivo da empresa de desenvolvimento de sítios Duda, classificou a mudança como “Mobile-geddon” (uma referência ao termo inglês “Armageddon”, local onde se travou a batalha do apocalipse) em virtude do efeito apocalíptico que pode causar, afetando milhões de sítios, especialmente os pertencentes a pequenos negócios. Segundo ele, um grande número de pequenas empresas – particularmente aquelas que recebem fregueses encaminhados por buscas tipo “restaurantes próximos à minha localização”, geralmente efetuadas a partir de dispositivos móveis, e cujos sítios não são amistosos a tais dispositivos, podem sentir uma diminuição significativa no número de clientes.

 Então, vamos lá. Se você tem ou é responsável por um sítio da Internet e não sabia destas mudanças, a primeira coisa a fazer é verificar se ele é amistoso a dispositivos móveis. Felizmente para você o Google facilitou enormemente esta tarefa pondo à sua disposição a página “Teste de compatibilidade com dispositivos móveis” (google.com/webmasters/tools). Vá até lá, entre com o URL (”endereço Internet”) de sua página e examine os resultados.

Se o sítio é compatível, tudo bem. Descanse e conte com um aumento significativo do número de visitantes a partir de agora. Se não for, ainda na página que apresenta os resultados do teste, leia atentamente e siga as recomendações do tópico “Tornar esta página compatível com dispositivos móveis” visando adaptá-la. O próprio Google oferece ferramentas para facilitar a tarefa. (/webmasters/tools/home)

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O Google é a ferramenta básica de orientação de qualquer usuário da Internet (exceto, naturalmente, das netas dos avôs “que sabem tudo”) portanto, mesmo que a maioria das consultas a seu sítio provenham de dispositivos fixos e tela grande, sugiro fazer as devidas adaptações para torná-lo amistoso a dispositivos móveis. Por outro lado, sítios realmente bons, cuja alta relevância é assegurada por outros fatores além da amigabilidade a dispositivos móveis, podem descer algumas posições na lista de resultados quando a consulta é feita a partir de um desses dispositivos, mas nem por isso deverão perder muitos visitantes.

E se você não tem um sítio e é um simples usuário do Google, não se espante se notar que os resultados de suas buscas feitas a partir de dispositivos móveis começarem a indicar prioritariamente sítios amistosos. Afinal, é justamente este o propósito do Google ao implantar as mudanças.

B. Piropo



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