O presidente da Anatel, Leonardo de Morais, disse que a internet 5G estará disponível nas capitais e no Distrito Federal dentro do prazo de um ano – já em 2022. Ele repetiu um dos pontos fundamentais do projeto de instalação desta tecnologia. Morais falou ao vivo à minha coluna na CBN. Foi a primeira entrevista dele desde a reunião que sacramentou o caminho da internet de quinta geração no Brasil, na última quinta-feira (25).

Confira abaixo os principais trechos da conversa exclusiva que teve a participação da apresentadora Cássia Godoy. O conteúdo foi editado para fins de clareza e brevidade, e conta com observações deste colunista nesta cor. O áudio na íntegra está disponível no site da CBN e no Spotify.

Cássia Godoy – É possível dizer que a gente vai ter nas capitais brasileiras 5G funcionando já em 2022?

Leonardo de Morais – Exatamente. Essa é justamente a ideia. O Conselho Diretor aprovou o calendário. O processo agora segue para a etapa subsequente, que é aquela de avaliação e precificação do direito de uso da radiofrequência no Tribunal de Contas da União (TCU). O calendário estimado é que em junho de 2022 já esteja implementado o 5G nas capitais e no DF.

O TCU se comprometeu a fazer uma análise. A expectativa é de que se pronuncie sobre o tema em 90 dias. A Anatel acredita que o leilão terá preço total entre R$ 33 e R$ 35 bilhões, incluindo aí os gastos para cumprir as contrapartidas. A quantia impressionou o mercado, que esperava menos. O banco Credit Suisse divulgou relatório nesta segunda (1º) em que diz que as ações de empresas do setor podem cair caso vá para frente a ideia de um leilão com valores tão altos.

Thássius Veloso – Sempre que falo de 5G muita gente comenta “poxa, nem o 4G funciona direito”. O senhor tem essa percepção? O 5G vem pra resolver esse problema?

Se o 4G mudou a vida das pessoas, o 5G vem pra mudar a sociedade e a força produtiva. Não é apenas um aumento de velocidade como ocorreu na transição da terceira para a quarta geração. O 5G tem outras facetas e se relaciona com a internet das coisas – com uso no agro business e em aplicações sensíveis a atraso. É um catalisador da inovação e de novas tecnologias, como inteligência artificial, robótica e realidade aumentada.

A faixa de entrada, de 3,5 GHz, não é tão boa em termos de propagação. Por isso precisaremos de mais antenas, com legislações municipais menos restritivas. Elas acabam inviabilizando as antenas e prejudicando esta percepção de qualidade e cobertura.

Vale lembrar que o Supremo Tribunal Federal derrubou em dezembro uma lei municipal de São Paulo que atrapalhava a instalação de mais antenas. Esta é uma queixa antiga das empresas do setor. Segundo o Supremo, é competência da União estabelecer critérios para a liberação das antenas e torres.

Cássia Godoy – Explica melhor esse modelo. É isso que faz com que pequenos provedores tenham mais dificuldades para participar e fornecer 5G no interior?

Os provedores de pequeno porte (PPPs) fornecem banda larga fixa. Esses empresários têm feito uma verdadeira revolução no interior do país, levando conectividade e chegando com bom atendimento com fibra ótica, com qualidade muito interessante. Os provedores estão pleiteando ter acesso ao espectro radioelétrico, objeto de solicitação. Nós vamos licitar o direito de uso do espectro radioelétrico, que é um bem público. Eles também querem ter a oportunidade e direito de uso da radiofrequência. Daí, surge a oportunidade ao 5G para que os pequenos empresários forneçam internet móvel ou banda larga fix

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O presidente da agência tem razão quando menciona os provedores pequenos. Geralmente eles ficam fora das capitais, onde as grandes empresas do setor não têm tanta capacidade ou interesse de prestar o serviço. Pequeninas cidades já foram totalmente fibradas – ou seja, receberam infraestrutura de fibra ótica – enquanto bairros de São Paulo e Rio, apenas para citar as maiores regiões do país, vivem um apagão de telecomunicações, com estruturas muito atrasadas.

Thássius Veloso – Muitos ouvintes acompanham a CBN no rádio do carro e ficam sem sinal na estrada, perdem o acesso à internet. Qual é o benefício previsto no leilão?

Vou explicar o que compõe esse certame, que será a maior licitação de direito do uso de radiofrequência da história da agência. Ele compreende quatro objetos distintos, por assim dizer. Um é 10 + 10 MHz na faixa de 700 MHz, depois 90 MHz na faixa de 2,3GHz. Essas duas faixas são para 4G e um dia vão evoluir para 5G. Depois temos a faixa de 3,6 GHz que, como disse, é a principal porta de entrada do 5G, e por fim, as bandas milimétricas de 26 GHz, comparável ao que se entrega hoje à fibra, com 300 a 400 Mb/s de forma sem fio.

As obrigações associadas à cobertura de estradas estão na faixa de 700 MHz. Por ser uma faixa mais baixa, as condições de propagação são melhores e o sinal viaja por uma extensão territorial maior. Nós vamos olhar especificamente para algumas rodovias, entre elas a BR-163, BR-364, BR-242, BR-135, BR-101 e BR-116. São importantes vias para o escoamento da produção brasileira e muitas vezes não contam com cobertura adequada de sinal. É uma reclamação constante de uma classe importante no Brasil, que são os caminhoneiros. A gente vai dar um incremento substancial de qualidade de prestação e de oferta de serviços no Brasil.

O reforço de internet 4G nas estradas, ainda que associado ao projeto de 5G, é benéfico para o setor agro, um dos mais importantes em termos de participação no Produto Interno Bruto (PIB). Rodovias efetivamente conectadas permitem comunicação melhor entre pessoas e até mesmo entre máquinas. Hoje em dia ocorrem conversas muito embrionárias sobre veículos autônomos, mas esta é uma discussão que merece frequentar a cúpula do setor de telecomunicações.

Entenda o leilão

O Conselho Diretor da Anatel deu aval para que o leilão do 5G ocorra ainda no primeiro semestre. Em reunião virtual realizada na tarde da última quinta (25), a agência reguladora estabeleceu que o certame deve acontecer até julho.

Operadoras de telefonia poderão fazer ofertas pelos espectros de 700 MHz, 2,3 GHz, 3,5 GHz e 26 GHz. Foi a segunda reunião sobre o tema. No primeiro encontro, realizado em 1º de fevereiro, o conselheiro responsável pela relatoria do processo, Carlos Baigorri, declarou que a rede de quinta geração “não é uma opção”, mas um dos alicerces da sociedade moderna.

A decisão foi tomada após o Ministério das Comunicações editar portaria com as condições e contrapartidas para o projeto de internet de quinta geração. O documento foi publicado em edição extra do Diário Oficial em 29/01 e não restringe a participação da Huawei.

Thássius Veloso é jornalista especializado em tecnologia, setor que cobre há dez anos. É editor do TechTudo e comentarista da CBN e da GloboNews. Entre em contato pelo email [email protected].



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