Imagine viver numa ilha onde não há internet. Você sabe o que é, já leu a respeito, mas nunca pôde acessar. Você pode até ter um smartphone, mas os aplicativos que necessitam de conexão não funcionam, e os demais devem ser comprados e transferidos numa loja física, porque não há como baixá-los. Até que um dia, tudo muda: um ponto de conexão wifi é instalado na sua esquina. Você pode levar seu notebook ou celular até um parque e conectar-se.

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Essa história é real para milhões de cubanos que, desde 2015, podem acessar a internet a partir de uma das 65 zonas de wifi instaladas pelo governo em praças públicas e outros locais de grande circulação. Com a novidade, Cuba ganhou milhares de novos usuários de Internet no intervalo de poucos meses. As particularidades do acesso – somente em locais ao ar livre, com uma conexão de baixa velocidade, custando US$ 2 a hora – fez com que os cubanos desenvolvessem um modo peculiar de se relacionar com a Internet.

Zona de wifi em Havana (Foto: Giordano Tronco)

O <b>TechTudo</b> passeou pelas zonas wifi de Havana e conversou com a população para saber como essa tecnologia é utilizada na ilha caribenha.

Interação cara a cara

Mais do que o contato com o resto do mundo, a Internet fortaleceu o laço dos cubanos com… Os próprios cubanos. Nas praças e esquinas, é comum ver turmas de amigos sentados lado a lado, acessando conteúdo virtual nos seus celulares enquanto batem papo presencialmente.

“O fato de os cubanos terem que ir se conectar no parque ou em lugares públicos cria um outro tipo de vínculo entre as pessoas, que não o simples vínculo digital que se criaria em outros países, com você na sua casa e eu na minha”, explica o jornalista cubano Félix Manuel Gonzales.

Turma de jovens no Boulevard San Rafael (Foto: Giordano Tronco)

Organizador de campeonatos de games online (algo bem difícil num país sem conexões domésticas e com velocidade de banda comparável à brasileira no início dos anos 2000), Félix tem uma visão romântica dessa nascente cultura digital.

“Há um vínculo, uma solidariedade. Por exemplo, se você não sabe se conectar e eu sei, eu te ajudo, e de alguma maneira estamos interagindo. Há diferentes tipos de interação que se dão nesses lugares públicos que tributam por uma melhor relação entre as pessoas, e que certamente não ocorreriam em outros países”, acrescenta.

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De fato, é difícil pensar em pessoas no Brasil saindo de casa para acessar a Internet na rua. O mais provável é que elas fiquem em casa, enviando links e gifs para os amigos, à distância. Mesmo sem uma Internet de alta velocidade ou conexões domésticas, dá pra ver, no grande número de pessoas que interagem nas zonas wifi, que Cuba tem algo que o Brasil não tem.

Cubanos acessam a Internet em companhia (Foto: Giordano Tronco)

Matando a saudade

Passeando pelo Boulevard San Rafael, uma das zonas wifi de Havana, a reportagem avista uma família reunida. A menina observa o pai colocando fones de ouvido na avó, que segura nas mãos um smartphone. A idosa mira o celular e fala alto, um pouco atrapalhada. O que estamos presenciando é uma de tantas re

... uniões familiares que acontecem todos os dias naquele parque. Famílias se reúnem para contatar parentes e amigos no exterior por videochamada.

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O Skype não oferece suporte para Cuba, então o aplicativo usado para as videochamadas é o Imo, que desempenha bem mesmo sob a baixa velocidade da Internet. Victor Manuel Quintano, dono de uma oficina de smartphones em Havana, atesta a popularidade do Imo: “Eu asseguro que o maior tráfego de Internet que se está gerando hoje em Cuba é de videochamadas com familiares no exterior.”

Com a nova possibilidade, várias famílias cubanas estão revendo parentes e amigos que foram embora há anos e nunca mais voltaram. Ainda que virtual, é um reencontro emocionante.

Família faz uma videochamada (Foto: Giordano Tronco)

“Aqui, todos têm algum familiar ou amigo no exterior. Pela migração e todas essas coisas, as famílias se separam”, conta Jorge Luis Bittencourt, usuário da rede wifi. Até 2015, a comunicação de Jorge Luis com os parentes e amigos nos EUA e Equador se dava por meio de cartas. Demorava, mas era econômico. Agora, por US$ 2, ele pode falar ao vivo com eles por uma hora, olho no olho.

“Marcamos por e-mail um dia e uma hora específica para podermos nos conectar. Aí falamos, nos vemos… Como fazem todos por aqui”, completa.



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