Crédito ou débito? “No crédito, por favor. Mas eu vou usar a aproximação, tá?” Esta se tornou a minha resposta para aquelas comprinhas do dia a dia desde que se instalou a crise da Covid-19. Geralmente quem está do outro lado do balcão me joga de volta um olhar de desconfiança. Causa estranhamento mesmo, mas o pagamento por aproximação se mostra um importante aliado para evitar a contaminação.

Talvez você não saiba, mas é possível que tenha em sua carteira um cartão (de crédito ou débito) compatível com esta tecnologia. Bancos maiores ainda relutam em liberá-la, mas milhões clientes de bancos digitais podem aproveitar a novidade.

Faz sentido: 43% dos brasileiros disseram que deixaram de frequentar as agências bancárias numa pesquisa do Ibope encomendada pelo C6 Bank. O levantamento aponta ainda que 46% estão usando com mais frequência os produtos digitais dos bancos.

Como funciona? É simples: diga que quer pagar por aproximação, aguarde o atendente digitar o valor na maquininha e aproxime o cartão. A norma técnica estabelece que o recurso também chamado de contactless funciona em distâncias inferiores a 10 centímetros. Na prática, talvez seja preciso dar um toque de leve no terminal.

Muito melhor do que o método tradicional, que normalmente requer digitar a senha num tecladinho que pode ter passado por higienização duvidosa. Aliás, a própria Organização Mundial da Saúde recomenda o contactless para conter o vírus. Diversos bancos centrais também desencorajam a utilização de cédulas de dinheiro.

Sozinho, o badalado Nubank contabiliza 17 milhões de clientes com acesso à tecnologia. Foram 25 milhões de transações assim desde em março. Já o C6 Bank percebeu um acréscimo de 15% neste tipo de pagamento ao longo de junho.

Muitos brasileiros já acordaram para este “novo normal”. A Mastercard contou à coluna que houve um salto no uso. Foram 69 milhões de transações entre janeiro e novembro de 2019. Corta para junho deste ano: 19 milhões de pagamentos num só mês.

O povo está comprando de tudo, mas saem na frente as comprinhas com menor valor. Sabe o pão quentinho da padaria, que acaba de sair do forno? É muito provável que você possa usar o contactless nesta hora. Eu não dispenso o acompanhamento de um bom requeijão.

Dá uma olhada no ranking de lojas que estão bombando atualmente, de acordo com a Visa:

  1. Mercados, supermercados, hortifruti, conveniências, cafeterias e lojas ligadas à alimentação (não inclui restaurantes e fast food)
  2. Postos de gasolina
  3. Farmácias
  4. Padarias

Bancos e bandeiras defendem que as transações são seguras. Entram em jogo a criptografia das operações – para que hackers não roubem a numeração do cartão – e a análise de risco – para recusar transações suspeitas. Não custa lembrar que as instituições financeiras são as responsáveis por tratar das fraudes. O consumidor jamais pode ser responsabilizado pelos problemas.

Compras de menor valor não precisam de senha. Até recentemente a trava acontecia para aquisições de até R$ 50. Diante dos desafios do momento, o setor decidiu subir o valor para R$ 100. Bancos e cartões ainda estão se adaptando.

Quem quer ainda mais conveniência não precisa nem mesmo levar o cartão na carteira. Variados bancos também liberam pagamentos pelo celular ou smartwatch. É preciso que o aparelho tenha o chip de NFC, uma forma de comunicação sem fio a curtas distâncias.

Maior empresa de smartphones do país, a Samsung oferece o Samsung Pay desde os telefones Galaxy mais básicos até os mais poderosos. A empresa revelou com exclusividade à coluna um crescimento de 52% no número de clientes cadastrados e de 76% na quantidade de usuários ativos entre janeiro de 2019 e junho de 20

... 20. Os números absolutos não foram informados.

A gigante sul-coreana divulgou um vídeo com orientações para os clientes:

Donos de celulares Android fabricados por Motorola, LG, Asus e outras empresas contam com o Google Pay. Já quem vive o ecossistema da maçã encontra a carteira virtual do Apple Pay tanto no iPhone quanto no Apple Watch. Em todos estes casos, o consumidor não paga nada a mais pelo uso da função.

É tudo uma questão de ir atrás da informação. Primeiro, verifique se o seu cartão tem o contactless. Já dá para entrar na onda e, de quebra, reduzir as chances de contágio pelo novo coronavírus. Segundo, cheque no manual do usuário do telefone e do relógio para saber se as funções de carteira virtual também estão presentes.

Dito isto: boas compras!

Thássius Veloso é jornalista especializado em tecnologia, setor que cobre há dez anos. É editor do TechTudo e comentarista da CBN e da GloboNews. Escreve neste espaço de opinião sempre que tem algo relevante a dizer.



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